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“O nosso sistema de justiça é caótico, terrível, lento, preocupante”

Patrícia Vasconcellos de Azevedo, não tem medo de desafios. Primeira mulher a assumir a presidência da OAB Chapecó foi ela quem desafiou o que chama de “cultura machista”. Foi por conta disso que ela criou a Comissão da Mulher Advogada. E este ato a credenciou a disputar o cargo de presidente. Antes disso, ela já havia assumido outros postos na Subseção, como tesoureira (2007/2009) e vice-presidente (2010/2012). Agora, é ela quem precisa gerir uma estrutura de 1.261 advogados e cinco comarcas. A Subseção tem sede própria administrativa e uma sede social. Possui 15 funcionários, sendo que dois são caseiros da sede social. Possui ainda um jovem aprendiz. Patrícia destaca que o maior desafio da Subseção de Chapecó é resgatar a identidade de entidade. Nesta entrevista ao NET LEGAL, produzido pela OAB Blumenau, ela conta um pouco sobre os principais desafios e sua trajetória na Subseção de Chapecó.
 
O que a motivou a concorrer à presidência da OAB de Chapecó e o que a motiva a comandar uma entidade tão importante como à OAB?
Antes de ser presidente exerci o cargo de tesoureira, gestão 2007/2009 e vice-presidente, gestão 2010/2012, sendo que nesta última, quando em exercício da presidência, tive a oportunidade de criar na Subseção a Comissão da Mulher Advogada. Foi a partir daí que começou um projeto especifico para as mulheres, o que nunca tinha existido dentro da Subseção. Lembrando que estamos numa região do estado muito conservadora e de cultura machista, prova disso é que a Subseção de Chapecó tem 42 anos e eu sou a primeira mulher presidente. Pois bem, dentro desse trabalho com as mulheres advogadas entendeu-se que já estava na hora de uma mulher assumir o cargo de presidente e por conta de todo o meu trabalho desenvolvido no decorrer dos anos o meu nome seria o mais indicado e isto me motivou a aceitar a concorrer à presidência. O que me motiva sempre a comandar essa entidade é saber que por trás de mim existem pessoas comprometidas com a OAB e que eu sempre posso contar com a ajuda delas.


Desde que assumiu a presidência, qual foi e qual é atualmente o principal desafio da entidade?
Na minha opinião, o desafio maior que a OAB enfrenta nos últimos anos é resgatar a sua identidade. Deixamos muito o advogado de lado e por conta disso a classe ficou desunida e precisamos nos unir mais, pois só assim nos tornaremos fortes novamente. Precisamos resgatar alguns valores dentro de nossa classe e somente com essa união é que conseguiremos, e isso para mim, infelizmente, é um desafio diário. Estamos vivendo atualmente um momento crítico dentro da OAB em que se mistura muito a política dentro da OAB e as pessoas estão colocando seus interesses pessoais acima dos interesses da classe e isso é péssimo. Prova disso é que estamos fora de discussões sérias que estão acontecendo em nosso país e estado.

Quais os entraves que a OAB tem hoje? E quais as principais conquistas neste período à frente da entidade?
Tivemos muitas conquistas, uma delas é a instalação da Agência do Sicoob Advocacia, uma luta de anos e que felizmente conseguimos. Outra conquista foram as instalações das 3ª e 4ª Vara do trabalho e a 2ª Vara do Juizado Especial Civil. Ainda temos a construção de uma sala e dois parlatórios privativos para os advogados dentro de Presídio Regional de Chapecó. Tivemos conquistas dentro do INSS com atendimentos personalizados para os advogados, enfim tivemos muitas conquistas e teremos muitos mais até o final de nossa gestão.E até o final da gestão queremos conquistar em definitivo a permanência da Câmara Regional de Chapecó – CERC, que hoje atende a toda a comunidade da região Oeste e Extremo Oeste, nós advogados não precisamos mais nos locomover até a capital para fazer uma sustentação oral no TJ, ou contratar um escritório para fazer isso por nós, reduzimos os gastos para o cliente e aproximamos o poder judiciário de segundo grau dos seus jurisdicionados.

Como visualizas o sistema de justiça brasileiro e catarinense, bem como o processo eletrônico implantado recentemente? É um avanço para o judiciário?
O nosso sistema de justiça é caótico, terrível, lento, preocupante, pois hoje nós advogados, sempre antes de fazer qualquer ação, temos que ver primeiro o que o juiz daquela Vara e Comarca pensa, como ele conduz o processo e a vara, não temos uma certeza jurídica em nada, pois cada juiz pode conduzir a sua Vara como bem entender, assim como os processos que estão sob suas jurisdições, isso é um horror. O processo eletrônico é um exemplo disso que falei. Pois além dele não ser unificado entre os judiciários, cada juiz pode conduzir da maneira que entender que seja melhor para ele. E ainda, digo mais, a nossa responsabilidade, trabalho e gasto aumentou muito, pois é a gente que tem que cadastrar todo o processo, guardar toda a documentação original e investir em pessoal e máquinas potentes para poder trabalhar. 

Qual a principal preocupação da cidade no momento e qual a participação da OAB no tema?A maior preocupação é a segurança pública e a OAB local vem apoiando as entidades civis nos movimentos e cobrando do governo municipal e estadual algumas providências que entendemos serem necessárias a médio e longo prazo.

Como mulher, sentes algum tipo de dificuldade em comandar a entidade? Ainda há preconceitos na cidade, em entidades em ver uma mulher assumir uma entidade tão importante como a OAB?
Como já mencionei eu sou a primeira mulher a ocupar a presidência da OAB Chapecó e o meu desafio constante é mostrar que a mulher tem a mesma capacidade de trabalho que o homem, que não servimos meramente só para trabalhos administrativos, mas que erguemos as mangas sempre para trabalhar não importa aonde e nem no que, e que a nossa capacidade intelectual é a mesma, senão melhor.

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