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Comunidade precisa estar envolvida com o sistema carcerário em Blumenau

Presidente do Conselho da Comunidade, Marilu da Rocha Ribas, lembra que antigos problemas não podem ser repetidos

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Foto: Patrick Rodrigues / Agencia RBS
Osiris Reis e Aline Camargo - Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. / Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

A comunidade é um pilar importante para o êxito do sistema prisional. Em Blumenau, o envolvimento dos diversos setores da sociedade no funcionamento e fiscalização do Presídio Industrial é primordial para o futuro do serviço que recebe os primeiros presos nesta terça-feira.
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A presidente do Conselho da Comunidade, Marilu da Rocha Ribas, lembra que os problemas começaram a partir do primeiro dia de funcionamento do Presídio Regional de Blumenau. A estrutura nunca deveria ter recebido detentos condenados, que precisariam ser encaminhados às penitenciárias. No entanto, a advogada afirma que isso não era cumprido.
– Começou errado – garante.
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Para ela, a superlotação nunca foi o pior problema para os presos. Na avaliação da presidente do conselho, a mistura entre os presos condenados e os não condenados foi uma das principais causas do colapso do sistema:
– Às vezes o réu primário é colocado em uma cela com pessoas que já foram condenadas 10 vezes. Ou seja, entra sem saber nada e aprende muitas coisas, como roubos a bancos e venda de drogas – cita.
Marilu assumiu o cargo voluntário de presidente do conselho em 2012 e visita periodicamente o presídio. Ela defende que o sistema precisa ter condições de recuperar o ser humano que está cumprindo a pena.
Relação com vizinhos
A interação entre os presídios e a comunidade em que estão inseridos também precisa ser levada em conta. Uma dona de casa de 57 anos que preferiu não se identificar mora há 12 anos em uma residência nos fundos do Presídio Regional. Já presenciou fugas, rebeliões e investigações policiais dentro da unidade e acredita que o sistema deve ser rígido, para não prejudicar a rotina das pessoas que moram ao redor.
– Já encontrei camisas e chinelos no meio do mato. Eles deixam as roupas por aqui e fogem. Às vezes passam pessoas de moto e usam um anzol para jogar celulares e drogas para dentro do presídio – revela.
Mesmo preferindo esconder a identidade, a mulher não se sente ameaçada com a presença da unidade aos fundos de casa. Mas acredita que a transferência dos presos deve dar mais segurança à comunidade e minimizar a possibilidade de fugas.
– Esse presídio só falta afundar de tantos buracos que há no chão – conta.
Vida ressocializada
Mudar o rumo do próprio destino exige mais do que disposição. É necessário força de vontade e até um certo apoio de quem viu os erros acontecendo, mas sabe que a intenção de se transformar é verdadeira.
O ex-detento Carlos Alberto Gonçalves, 42 anos, buscou a mudança depois de passar nove anos no Presídio Regional de Blumenau e decidir mudar o rumo de sua vida. A saída dos limites do muro da prisão da Rua General Osório foi carregada de simbolismo. Depois de quase uma década, ele desembarcou em março de 2007 numa realidade completamente diferente da que vivia quando viu Blumenau pela última vez:
– Quando eu entrei na cadeia não tinha terminais de ônibus em Blumenau e quando eu saí, tinha! Imagina ficar num lugar que é outro mundo tanto tempo, onde tens que viver por ti porque é uma outra regra, uma outra lei. Depois que você sai e sente o vento no rosto, o sol na pele, imagina quanto tempo perdeu e começa a pensar que a tua liberdade não pode ser trocada por nada.
No tempo em que viveu no Presídio Regional de Blumenau, Gonçalves encontrou na religião o caminho para não voltar ao crime. Concluiu o ensino fundamental e o ensino médio – já fora da cadeia – e seguiu seus passos na igreja. Foi convidado para ser pastor e, enquanto ajudava as pessoas ouvindo seus problemas e tentando oferecer algum conforto espiritual, pensava de que maneira poderia fazer mais por elas. Foi aí que veio a vontade de estudar Direito.
– Como pastor você ajuda famílias, e então eu resolvi me formar para poder falar melhor com elas, ajudar mais, e quando eu puder advogar, vou poder fazer algo ainda melhor para a sociedade – justifica, alimentando o sonho de poder mudar a vida de outras pessoas para melhor, como um dia fez com a própria história.

Fonte: JSC Site: http://jornaldesantacatarina.clicrbs.com.br/sc/seguranca/noticia/2016/04/comunidade-precisa-estar-envolvida-com-o-sistema-carcerario-em-blumenau-5786592.html Acessada em 26/04/16

 

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